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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Imergindo na História do Observatório Astrnômico Antares



Este texto conta brevemente um pouco das tantas histórias que o mais antigo funcionário do Observatório Antares, relata para todos que aqui chegam e tem curiosidade de saber como tudo começou 

Lise Marcelino Souza
 
Através da história oral, conseguimos obter muitas informações referentes à criação do Observatório Astronômico Antares (OAA). Todos estes dados, foram coletados a partir das falas de um funcionário, que encontra-se na instituição desde  quando o local era apenas um ‘campestre cheio de pedras’, como ele mesmos denomina. Este senhor atende por Francisco Roque de Jesus, porém é mais conhecido por todos como Seu Roque.
Foto: Seu Roque. Funcionário do Observatório Antares
O engraçado e adorável senhor de puxado sotaque pernambucano, nascido em Petrolina no dia 10/10/1948, veio para Feira de Santana, Bahia, com apenas 10 anos de idade, quando uma irmã se casou com um feirense. A partir daí ele começou a construir sua história de vida na cidade do Portal do Sertão. Crescendo, foi trabalhando como ajudante de pedreiro, até que um dia se tornou pedreiro de fato. Por este motivo, que a história de vida de Seu Roque se cruza com a do Observatório Astronômico Antares.
Tudo começou quando o mesmo estava passando em uma manhã pela Rua da Barra, no Jardim Cruzeiro, (para ir trabalhar em mais uma obra no bairro da Cidade Nova). Nesta, ele se deparou com um rapaz (Augusto César Pereira Orrico), andando de um lado para o outro no terreno. Curioso, ele foi até o jovem e perguntou o que ia ser aquela área, que outrora era um campo de futebol.  O mesmo lhe disse que iria ser um Observatório Astronômico e que estava precisando de um pedreiro.
Seu Roque então aproveitou e fez a sua propaganda, dizendo do seu oficio, e logo depois o César Orrico contratou-o e ele começou assim a trabalhar na construção do OAA, consequentemente alicerçar a sua trajetória de vida nesta instituição.  Seu Roque sabe de cada tijolinho que foi colocado aqui, como diz ele todo dia “Eu tenho o saber, num sabe? Mas muitas vezes me falta a memória por causa da idade, mas se a senhora me perguntar e eu me alembrar eu vou contando.”
         Uma das varias coisas que ele relata é que a área que o OAA ocupa hoje, pertencia ao Estado, e que por intermédio da esposa do César Orrico, o Antônio Carlos Magalhães  cedeu a propriedade para a edificação do que viria a se tornar um grande empreendimento científico.
O projeto foi colocado em prática e dentro de aproximadamente três anos, foi finalizado. Neste período, Seu Roque conta que durante o governo de Valdir Pires, estavam ocorrendo muitas invasões e conseqüentes desapropriações de terrenos, por este motivo, o mesmo costumava pernoitar muitas vezes na construção, tendo que acender uma fogueira para espantar os possíveis invasores e mostrar que ali já estava sendo ocupado.
Já pronto, o Observatório Antares, passou a fazer pesquisas e receber estudiosos de várias partes do mundo onde muitos pesquisadores de outros países contavam com a ajuda de ACM para vir fazer pesquisas no OAA.
Com os resultados de tais estudos, eram produzidas pequenas publicações e estas distribuídas por meio de postagem pelos Correios, para as instituições ou pessoas com mesmo propósito tivessem acesso às informações. Assim como também, chegavam correspondências similares no OAA.
Todo o custeamento do OAA era feito não só pelo idealizador Augusto César Orrico, mas também por empresas que faziam doações a fim de reduzir os impostos pagos para o Governo. Seu Roque se lembrou de três fábricas que tinham este hábito; a antiga Tropical (fabrica de pneus, atual Pirelli), Phebo (indústria de sabão) e a Metrusa (produtora de Metal).
Depois de certo tempo, duas destas fábricas fecharam; a Phebo e a Metrusa. Posteriormente houve a venda da Tropical e a mudança de nome para Pirelli. Com tais fatos ocorridos, ficou cada vez mais difícil manter o Observatório Antares. Tudo isso vem a ocorrer na época do governo de Fernando Collor de Melo.
A instituição chegou a parar de funcionar, certo período, com a sua função original por falta de verba, sendo assim, parte dela foi utilizada como posto de saúde. Os vestígios de tal ocupação ainda podem ser vistos até hoje no chão da sala de exposição do Espaço Natureza através das marcas das divisórias que foram colocadas.
Com tais acontecimentos, César Orrico pensou em fazer a doação de toda a estrutura e sua funcionalidade para a prefeitura de Feira de Santana; porém o Prefeito da época, conhecido pelos feirenses como Colbert Pai, não aceitou a transferência de tutela; pois o mesmo acreditava que o município não tinha condições de sustentar um Observatório e este não tinha utilidade dentro do âmbito do governo municipal.
Com a posição negativa desta instância, Orrico então partiu para a esfera estadual e fez a proposta para a Secretaria de Educação do Estado da Bahia. Esta por sua vez aceitou e a partir da Resolução 02/92 do Conselho Administrativo da Universidade Estadual de Feira de Santana(UEFS), o Observatório Astronômico Antares passou a fazer parte da UEFS, como unidade Extra-Campus.
A partir daí tem-se este marco como um ‘divisor de águas’ na história do OAA, pois ele vem a ser de fato, depois deste decreto, uma instituição pública. Com o decorrer dos anos, uma série de atividades e projetos foram sendo elaborados e ainda com o César Orrico na direção. Em 2006, depois de cansado e revoltado com a gestão da Reitoria, César resolve sair da instituição e com ele foram também alguns dos projetos que ele pensava em implantar no OAA.
Seu Roque diz que sentiu muito a saída de seu parceiro, pois para ele, César Orrico era como um irmão e o dois estiveram juntos desde o começo de tudo. O maior ressentimento de Seu Roque foi que César saiu repentinamente e em momento algum o mesmo chegou para Seu Roque e justificou a tomada de decisão do seu ato.
Com o fim da direção de César Orrico, assumiu provisoriamente o cargo o Professor Fábio Ribeiro, do Departamento de Física da UEFS, até que o Professor Paulo Poppe terminasse seu pós-doutorado. Quando este último tomou posse, deu ao OAA uma nova roupagem e colocou em andamento projetos que já existiam; como a parte da exposição externa que foi inaugurada em 2009 juntamente com a idéia (dele e da Professora Maria Celeste Valverde) da criação do Espaço Natureza do Museu Antares de Ciência e Tecnologia (MACT).