Este
texto conta brevemente um pouco das tantas histórias que o mais antigo funcionário do Observatório Antares,
relata para todos que aqui chegam e tem curiosidade de saber como tudo começou
Lise Marcelino Souza
Através da história oral, conseguimos obter muitas informações
referentes à criação do Observatório Astronômico Antares (OAA). Todos estes
dados, foram coletados a partir das falas de um funcionário, que encontra-se na
instituição desde quando o local era
apenas um ‘campestre cheio de pedras’, como ele mesmos denomina. Este senhor
atende por Francisco Roque de Jesus, porém é mais conhecido por todos como Seu
Roque.
Foto: Seu Roque. Funcionário do Observatório Antares
O engraçado e adorável senhor de puxado
sotaque pernambucano, nascido em Petrolina no dia 10/10/1948, veio para Feira
de Santana, Bahia, com apenas 10 anos de idade, quando uma irmã se casou com um
feirense. A partir daí ele começou a construir sua história de vida na cidade
do Portal do Sertão. Crescendo, foi trabalhando como ajudante de pedreiro, até
que um dia se tornou pedreiro de fato. Por este motivo, que a história de vida
de Seu Roque se cruza com a do Observatório Astronômico Antares.
Tudo começou quando o mesmo estava
passando em uma manhã pela Rua da Barra, no Jardim Cruzeiro, (para ir
trabalhar em mais uma obra no bairro da Cidade Nova). Nesta, ele se deparou
com um rapaz (Augusto César Pereira Orrico), andando de um lado para o outro no
terreno. Curioso, ele foi até o jovem e perguntou o que ia ser aquela área, que
outrora era um campo de futebol. O mesmo
lhe disse que iria ser um Observatório Astronômico e que estava precisando de
um pedreiro.
Seu Roque então aproveitou e
fez a sua propaganda, dizendo do seu oficio, e logo depois o César Orrico
contratou-o e ele começou assim a trabalhar na construção do OAA,
consequentemente alicerçar a sua trajetória de vida nesta instituição. Seu Roque sabe de cada tijolinho que foi colocado
aqui, como diz ele todo dia “Eu tenho o saber, num sabe? Mas muitas vezes me
falta a memória por causa da idade, mas se a senhora me perguntar e eu me
alembrar eu vou contando.”
Uma das varias coisas que ele relata é
que a área que o OAA ocupa hoje, pertencia ao Estado, e que por intermédio da
esposa do César Orrico, o Antônio Carlos Magalhães cedeu a propriedade para a edificação do que viria a se tornar um
grande empreendimento científico.
O projeto foi colocado em
prática e dentro de aproximadamente três anos, foi finalizado. Neste período, Seu
Roque conta que durante o governo de Valdir Pires, estavam ocorrendo muitas
invasões e conseqüentes desapropriações de terrenos, por este motivo, o mesmo
costumava pernoitar muitas vezes na construção, tendo que acender uma fogueira
para espantar os possíveis invasores e mostrar que ali já estava sendo ocupado.
Já pronto, o Observatório
Antares, passou a fazer pesquisas e receber estudiosos de várias partes do
mundo onde muitos pesquisadores de outros países contavam com a ajuda de ACM para
vir fazer pesquisas no OAA.
Com os resultados de tais
estudos, eram produzidas pequenas publicações e estas distribuídas por meio de
postagem pelos Correios, para as instituições ou pessoas com mesmo propósito tivessem
acesso às informações. Assim como também, chegavam correspondências similares
no OAA.
Todo o custeamento do OAA era
feito não só pelo idealizador Augusto César Orrico, mas também por empresas que
faziam doações a fim de reduzir os impostos pagos para o Governo. Seu Roque se
lembrou de três fábricas que tinham este hábito; a antiga Tropical (fabrica de
pneus, atual Pirelli), Phebo (indústria de sabão) e a Metrusa (produtora de
Metal).
Depois de certo tempo, duas destas
fábricas fecharam; a Phebo e a Metrusa. Posteriormente houve a venda da
Tropical e a mudança de nome para Pirelli. Com tais fatos ocorridos, ficou cada
vez mais difícil manter o Observatório Antares. Tudo isso vem a ocorrer na
época do governo de Fernando Collor de Melo.
A instituição chegou a parar de
funcionar, certo período, com a sua função original por falta de verba, sendo
assim, parte dela foi utilizada como posto de saúde. Os vestígios de tal
ocupação ainda podem ser vistos até hoje no chão da sala de exposição do Espaço
Natureza através das marcas das divisórias que foram colocadas.
Com tais acontecimentos, César
Orrico pensou em fazer a doação de toda a estrutura e sua funcionalidade para a
prefeitura de Feira de Santana; porém o Prefeito da época, conhecido pelos
feirenses como Colbert Pai, não aceitou a transferência de tutela; pois o mesmo
acreditava que o município não tinha condições de sustentar um Observatório e
este não tinha utilidade dentro do âmbito do governo municipal.
Com a posição negativa desta
instância, Orrico então partiu para a esfera estadual e fez a proposta para a
Secretaria de Educação do Estado da Bahia. Esta por sua vez aceitou e a partir
da Resolução 02/92 do Conselho Administrativo da Universidade Estadual de Feira
de Santana(UEFS), o Observatório Astronômico Antares passou a fazer parte da UEFS,
como unidade Extra-Campus.
A partir daí tem-se este marco como
um ‘divisor de águas’ na história do OAA, pois ele vem a ser de fato, depois
deste decreto, uma instituição pública. Com o decorrer dos anos, uma série de
atividades e projetos foram sendo elaborados e ainda com o César Orrico na direção.
Em 2006, depois de cansado e revoltado com a gestão da Reitoria, César resolve
sair da instituição e com ele foram também alguns dos projetos que ele pensava
em implantar no OAA.
Seu Roque diz que sentiu muito
a saída de seu parceiro, pois para ele, César Orrico era como um irmão e o dois
estiveram juntos desde o começo de tudo. O maior ressentimento de Seu Roque foi
que César saiu repentinamente e em momento algum o mesmo chegou para Seu Roque
e justificou a tomada de decisão do seu ato.
Com o fim da direção de César
Orrico, assumiu provisoriamente o cargo o Professor Fábio Ribeiro, do
Departamento de Física da UEFS, até que o Professor Paulo Poppe terminasse seu
pós-doutorado. Quando este último tomou posse, deu ao OAA uma nova roupagem e
colocou em andamento projetos que já existiam; como a parte da exposição externa
que foi inaugurada em 2009 juntamente com a idéia (dele e da Professora Maria
Celeste Valverde) da criação do Espaço Natureza do Museu Antares de Ciência e
Tecnologia (MACT).